Em 31 de maio de 1931, há 90 anos, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada
padroeira do Brasil, em uma cerimônia que reuniu uma multidão no Rio de
Janeiro (RJ), então capital federal. A consagração solene ocorreu após o papa
Pio XI ter assinado decreto no ano anterior conferindo este título à Mãe
Aparecida.
A historiadora Tereza Pasin, autora do livro “Senhora Aparecida”, contou em
entrevista à ACI Digital que aquela
data foi importante não só para Aparecida, mas para o Rio de Janeiro e todo o
país. “Foi a primeira saída de Nossa Senhora, uma viagem oficial e a imagem
levada ao Rio de Janeiro para a proclamação foi a encontrada no rio Paraíba do
Sul, não um fac-símile”.
A proposta de pedir à Santa Sé a proclamação de Nossa Senhora Aparecida como
padroeira do Brasil surgiu no contexto do Congresso Mariano de 1929, em
Aparecida (SP). “O congresso de 1929 lembrou os 25 anos da coroação de Nossa
Senhora Aparecida como rainha do Brasil, o que aconteceu em 8 de setembro de
1904. Então, como ela já era Rainha, os bispos e arcebispos pediram ao papa
que a proclamasse padroeira do Brasil”.
Assim, o pedido foi feito ao papa por empenho do então arcebispo do Rio de
Janeiro, dom Sebastião Leme, e do reitor do Santuário na época, padre Antão
Jorge Hechenblaickner. Em 16 de julho de 1930, o papa Pio XI assinou o decreto
que proclamou Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil.
Segundo a historiadora, especialista na história da devoção a Nossa Senhora
Aparecida, o que motivou este pedido foi a crescente quantidade de romeiros
que ia a Aparecida. “Principalmente em 1900, a Igreja pediu que as romarias
viessem acompanhadas do pároco e ou de um bispo, porque antes, temos muitas
romarias, mas não romarias oficiais. Com isso foi crescendo a devoção a Nossa
Senhora, por isso decidiram pedir que fosse proclamada padroeira do Brasil”.
Antes, porém, o Brasil já tinha um padroeiro. Em 1826 o Papa Leão XII havia
declarado padroeiro do país São Pedro de Alcântara, santo de devoção da
Família Real Portuguesa. Seu nome, Pedro de Alcântara, foi inclusive escolhido
como nome de batismo daqueles que viriam a se tornar imperadores do Brasil –
Dom Pedro I e Dom Pedro II.
De acordo com a historiadora Tereza Pasin, a proclamação de Nossa Senhora como
padroeira do país não mudou em nada a situação em relação a São Pedro de
Alcântara. “Oficialmente, nós temos dois padroeiros, ou seja, o padroeiro e a
padroeira”, afirmou. “Mas, mesmo naquela época, muitos não conheciam São Pedro
de Alcântara”, disse.
Portanto, afirmou que o pedido que os bispos fizeram ao papa foi “por uma
ligação de devoção, porque foi muito grande a quantidade de devotos que
começaram a surgir e os brasileiros já viam Nossa Senhora como padroeira”.
Pasin declarou que Nossa Senhora não tem uma ligação específica com
determinado período histórico. “Nossa Senhora passou pela colônia, pelo
Império, pela República Velha e República Nova. Mas, por que aconteceu tudo
isso? Porque em torno de Nossa Senhora Aparecida há uma fé popular. Aí está
toda resposta, uma fé popular”, afirmou.
A grande festa de proclamação no Rio de Janeiro
Após o papa assinar o decreto em 1930, teve início a preparação para a
cerimônia de proclamação de Nossa Senhora como padroeira do Brasil, no Rio de
Janeiro. Realizou-se, então, um congresso mariano de 24 a 31 de maio de 1931.
“Foi muito bem preparado e foi um tempo de oração esperando a vinda da
imagem”, contou Pasin.
Entretanto, a celebração teve início ainda em Aparecida e seguiu por todo o
percurso. “No trem que levou a imagem ao Rio de Janeiro, que ficou conhecido
como trem de Nossa Senhora, um vagão foi transformado em capela para a
imagem”, contou a historiadora.
Além disso, o trem foi parando em todas as estações no caminho, onde
aconteciam homenagens a Nossa Senhora. Pasin contou que as flores para Nossa
Senhora “eram doadas e ficavam ali na capela até a estação seguinte, onde
recebiam nova doação de flores. Então, muitas pessoas tinham uma pétala de
lembrança de Nossa Senhora”.
A historiadora narrou episódios marcantes de algumas estações, como em Quatis,
onde “os vigários e paroquianos andaram seis quilômetros a pé para chegar à
estação”. Outro fato que considerou marcante ocorreu onde hoje é a estação de
Japeri, pois, “quando as pessoas chegaram, o trem já tinha passado e, então,
aquelas pessoas passaram o dia inteiro na estação esperando o trem voltar à
noite”.
O trem de Nossa Senhora chegou à estação D. Pedro II, atual Central do Brasil,
no Rio de Janeiro, às 7h. A imagem foi levada em carro aberto para a igreja de
São Francisco de Paula, onde foi celebrada uma
missa
campal. Em seguida, seguiu para a catedral, na época, a igreja de Nossa
Senhora do Carmo e, às 14h, saiu em procissão até a Praça da Esplanada do
Castelo, onde aconteceu a proclamação solene de Nossa Senhora Aparecida como
padroeira do Brasil.
Durante a procissão, muitas homenagens foram feitas a Nossa Senhora Aparecida.
Tereza Pasin contou que “seis aviões da marinha acompanharam o percurso”. Além
disso, “participaram 50 mil filhas de Maria e, no total, quase 1 milhão de
pessoas”. “Nos prédios havia muita gente. Em quase todo o percurso, pétalas
eram jogadas das residências”, disse.
Na Esplanada do Castelo, participaram da proclamação o cardeal Leme, o então
presidente da república, Getúlio Vargas, o ministro Oswaldo Aranha, o núncio
apostólico dom Aloísio Masella, e o arcebispo de São Paulo, dom Duarte
Leopoldo e Silva.
Tereza Pasin citou uma frase dita pelo cardeal Sebastião Leme naquela ocasião
e que foi registrada pelo Jornal do Commercio: “O Rio de Janeiro foi na
aclamação de ontem a voz de toda a terra brasileira”.
Na proclamação, o arcebispo do Rio de Janeiro “fez a leitura de uma oração
para Nossa Senhora que ele já havia escrito em 1929 de modo particular”. Desde
então, contou a historiadora, “passamos a rezar aqui em Aparecida diariamente
às 15h com o título de consagração a Nossa Senhora Aparecida e, ao término das
Missas, os padres também rezam”.
Segundo Pasin, todo o que ocorreu naquele dia 31 de maio de 1931 também
contribuiu para aumentar ainda mais a devoção a Nossa Senhora Aparecida no
Brasil. “Na época, tinha o jornal O Santuário de Aparecida, que abrangia todo
o Brasil. Ele narrou toda a festa, a ida da imagem ao Rio de Janeiro, as
paragens, a chegada a então capital federal, tudo o que tinha sido preparado.
Então, as pessoas que não participaram ficaram sabendo e, com isso, a devoção
foi aumentando”.
Segundo a historiadora, celebrar os 90 anos da proclamação de Nossa Senhora
como padroeira do Brasil é também uma forma de reafirmar esta devoção. “Nós
precisamos dessa fé. Vamos comemorar, vamos falar, vamos lembrar a história,
aquilo que acalentou o povo da época. Hoje, nós gostamos de dizer Rainha e
Padroeira do Brasil”.
Oração de consagração a Nossa Senhora Aparecida
Senhora Aparecida, o Brasil é vosso!
Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente
Nossa Senhora da Conceição, tende compaixão do vosso povo
Protegei as criancinhas!
Guiai a mocidade!
Guardai a família!
Esclarecei o nosso governo!
Salvação para a nossa pátria!
Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil em vós confia!
Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama!
Salve Rainha!
via
ACI
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