Padre Robson de Oliveira, outros funcionários e empresários eram
suspeitos de usar parte das doações à entidade para a compra de fazendas e
até casa na praia. Religioso sempre negou irregularidades.
O Ministério Público entrou com um recurso na quarta-feira, 14 de Outubro,
pedindo a anulação da decisão que interrompeu a investigação
contra o padre Robson
de Oliveira por desvio de dinheiro na Associação Filhos do Pai Eterno
(Afipe). Parte das doações teria sido usada para compra de fazendas e até casa na
praia. O religioso sempre negou irregularidades.
A investigação da Operação
Vendilhões
foi trancada no dia 6 de outubro. No entendimento dos desembargadores do
Tribunal de Justiça de Goiás, não houve os crimes de organização criminosa,
lavagem de dinheiro, lavagem de capitais e apropriação indébita.
A defesa do padre Robson informou que o assunto, exclusivamente de ordem
judicial, "diz respeito apenas ao rito do Poder Judiciário e deve ser
tratado dentro do processo". Além disso, disse que "questões tratadas fora
do processo são subterfúgios para vazar elementos de investigação já
trancada, portanto, em sigilo".
A Afipe informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
No recurso, o Ministério Público alega que o órgão não foi ouvido, o que
fere o Código de Processo Penal, além de desconsiderar novas provas
produzidas ao longo da investigação. Por fim, os promotores afirmam que a
decisão trancou também outra investigação, que não tinha relação com o caso
e apurava a suspeita de
conduta criminosa por parte de integrantes da Polícia Civil em uma extorsão
contra o padre Robson em 2017.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou "que não irá se
manifestar sobre as declarações do promotor de Justiça, tendo em vista que o
fato é investigado pelo Ministério Público, como dito em entrevista
coletiva. A Polícia Civil não comenta investigações de outros órgãos e
reafirma que todas as denúncias de infrações penais e administrativas
praticadas por policiais civis são rigorosamente apuradas pela Corregedoria
da instituição".
O pedido de embargos de declaração foi feito diretamente ao desembargador
Nicomedes Borges, relator do habeas corpus que trancou a investigação.
Nos embargos apresentados, é alegado que houve omissões e equívocos na
decisão dos desembargadores, como o fato de o Ministério Público não ter
sido ouvido durante o julgamento do habeas corpus, o que resultou em
prejuízo à investigação. Isso também impossibilitou que o Tribunal de
Justiça tivesse conhecimento da investigação como um todo.
Após o trancamento da ação, o MP divulgou documentos que, segundo os
promotores de Justiça, reforçam que os próprios integrantes da Afipe apontaram irregularidades
na associação.
O MP tem ainda, como parte do conjunto de provas, um relatório feito por um
ex-diretor da Afipe, no qual ele alega ter tentado relatar algumas
irregularidades, mas que obteve a seguinte resposta: "Eu sei que está
errado, mas o padre [Robson] manda fazer".
Operação Vendilhões
O padre foi investigado no âmbito da Operação Vendilhões, deflagrada pelo
MP no último dia 21 de agosto, para apurar denúncias de desvios de doações
de fiéis à Afipe, as quais deveriam ser destinadas à construção do novo
santuário e a ações de evangelização, mas estariam sendo usadas para
comprar, entre outros bens, casas de luxo e fazendas milionárias.
À época, padre Robson se afastou do
cargo
temporariamente por causa da investigação. Ele também era o reitor da
Basílica, posição da qual também foi retirado.
A Afipe foi fundada em 2004 pelo padre Robson de Oliveira e é responsável
pela administração do Santuário Basílica de Trindade, na Região
Metropolitana. O objetivo da entidade é ajudar nos trabalhos de
evangelização da igreja. Segundo o MP, a associação movimentou mais de R$ 2
bilhões em nove anos, mas havia a suspeita de que R$ 120 milhões foram desviados.
Parte do dinheiro deveria ser usado na construção da nova Basílica, que foi
avaliada inicialmente em R$ 100 milhões, mas que, atualmente, tem previsão
de custar R$ 1,4 bilhão.
via G1
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