MP apresentou provas coletadas após a Operação Vendilhões, como depoimentos de
pessoas que seriam laranjas no esquema, mas TJ manteve trancamento. Padre
sempre negou irregularidades.
Desembargadores da 1ª turma da Câmara Criminal de Goiânia decidiram, nesta
terça-feira (27), manter o bloqueio da ação que investigava padre Robson de
Oliveira por suposto desvio de dinheiro ofertado por fiéis à Associação Filhos
do Pai Eterno (Afipe). O pároco, que administrava o Santuário Basílica de
Trindade, sempre negou as acusações do Ministério Público de Goiás. Os
magistrados mantiveram o entendimento de que não há os crimes apontados pelos
promotores e justificaram que as provas apresentadas não são novas.
O Ministério Público de Goiás informou em nota que irá recorrer, com todas as
medidas cabíveis, da decisão da 1ª Câmara Criminal do TJ-GO que manteve o
trancamento das investigações no âmbito da Operação Vendilhões. Entre as
medidas está a interposição de recurso especial ao Superior Tribunal de
Justiça.
O advogado que defende o padre no processo, Pedro Paulo de Medeiros, disse ao
que o sacerdote recebeu a notícia da decisão com "tranquilidade e felicidade
pela verdade ser restabelecida com a decisão da Corte". A defesa destaca ainda
que Robson de Oliveira espera voltar para as atividades religiosas, mas que o
assunto compete exclusivamente à Igreja Católica e à direção da Afipe.
Ao apresentar o voto favorável à manutenção do trancamento, o relator,
desembargador Nicomedes Domingos Borges, se disse "surpreso com a juntada
desses documentos nessa fase processual" e que "em momento algum" recebeu
sequer memoriais. Para o magistrado, as provas ditas como novas pelos
promotores, "na verdade, não são tão novas, que foram produzidas antes do
julgamento do rito".
"Nós não estamos aqui a dizer que o padre Robson é inocente ou é culpado. Não
é isso que está sendo discutido. Tem que ser apurado em outra ação. Estamos
dizendo que a conduta escolhida para a investigação não é adequada e foi
decidida por unanimidade nesta Câmara", argumentou o desembargador.
Trecho da decisão colegiada ressalta que a destinação, tal qual explicado aos
fiéis doadores, é realizada por obrigação moral e ética, sempre tendo com o
intuito exclusivo concretizar a evangelização, não havendo, portanto, qualquer
imposição legal sobre a aplicação dos recursos.
"O que inviabiliza a tipificação penal da suposta prática de apropriação
indébita e, consequentemente, esvaziando a incursão nos crimes de lavagem de
direito e organização criminosa, consequentemente, ausente justa causa para
continuidade das investigações em curso", diz a sentença assinada por
Nicomedes Borges.
O desembargador destacou que, após a primeira decisão que determinou o
bloqueio, "o mundo desabou". A ação foi trancada no dia 6 de outubro em
decisão unânime dos desembargadores, que seguiram a análise de Nicomedes.
Porém, no dia 14, o Ministério Público recorreu alegando que não tinha sido
ouvido antes da sentença que interrompeu a investigação e desconsiderou novas
provas já obtidas.
Investigação contra policiais
O MP havia dito no dia 8 deste mês que a sentença do TJ-GO também interrompeu
uma apuração paralela, que tem como alvos agentes da Polícia Civil suspeitos
de chantagearem o sacerdote quando hackers extorquiram dinheiro dele para não
revelar supostos casos amorosos.
O desembargador Nicomedes Domingos, no entanto, revelou nesta terça que não
suspendeu a investigação contra os agentes da Polícia Civil, que segue aberta
para apuração do MP.
A Polícia Civil de Goiás informou em nota que não irá se manifestar, tendo em
vista que o fato é investigado pelo Ministério Público.
"A Polícia Civil não comenta investigações de outros órgãos. E reafirma que
todas as denúncias de infrações penais e administrativas praticadas por
policiais civis são rigorosamente apuradas pela Corregedoria da instituição",
diz a nota.
Investigação
Em agosto, a Operação Vendilhões começou a investigar o desvio de R$ 120
milhões doados por fiéis para a compra de imóveis, como fazendas e uma casa na
praia. O padre Robson de Oliveira, que era o presidente da associação, nega as
irregularidades desde o início e se afastou das atividades na Igreja Católica
durante a apuração.
Provas apresentadas pelo MP
No recurso, o MP apresentou depoimentos de cinco pessoas apontadas como
"laranjas" do suposto esquema articulado pelo padre Robson para desviar
dinheiro.
Uma ex-funcionária da Basílica de Trindade relatou que cedeu seu nome para se
tornar sócia de uma rádio vinculada à Afipe e que assinou documentos em branco
relacionados a essa questão.
Entre os documentos que foram analisados antes da interrupção da ação está um
banco de dados com o nome de 3,8 milhões de pessoas que teriam feito doações à
associação.
O nome de uma diarista está na relação como tendo doado mais de R$ 3 milhões.
Ela acredita que teve o nome usado indevidamente, pois doava no máximo R$ 20
por vez.
via
G1
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