O que é a idolatria de imagens? Por que católicos não adoram suas imagens?

imagem do Cristo Redentor

Deus parece proibir o uso de imagens no livro do Êxodo (Ex 20,3-5) e em diversas outras passagens bíblicas, mas será que a proibição é quanto à confecção de imagens? E por que é proibido “adorar” imagem?



Sabemos que na época, o povo de Israel foi negativamente influenciado pelas nações que os cercavam, nações pagãs, politeístas e idólatras, onde cultuava-se os astros, os animais, os reis, etc:



"Quando o povo viu que Moisés tardava em descer da montanha, congregou-se em torno de Aarão e lhe disse: “Vamos, faze-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, a esse homem que nos fez subir da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.” Aarão respondeu-lhes: “Tirai os brincos de ouro das orelhas de vossas mulheres, de vossos filhos e filhas, e trazei-mos.” Então todo o povo tirou das orelhas os brincos e os trouxeram a Aarão. Este recebeu o ouro das suas mãos, o fez fundir em um molde e fabricou com ele uma estátua de bezerro. Então exclamaram: “Este é o teu deus, ó Israel, o que te fez subir da terra do Egito.” Quando Aarão viu isso, edificou um aliar diante da estátua e fez esta proclamação: “Amanhã será festa para Iahweh.” No dia seguinte, levantaram-se cedo, ofereceram holocaustos e trouxeram sacrifícios de comunhão. O povo assentou-se para comer e para beber, depois se levantou para se divertir. Iahweh avisa Moisés — Iahweh disse a Moisés: “Vai, desce, porque o teu povo, que fizeste subir da terra do Egito, perverteu-se. Depressa se desviaram do caminho que eu lhes havia ordenado. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, o adoraram, lhe ofereceram sacrifícios e disseram: Este é o teu Deus, ó Israel, que te fez subir do país do Egito." (Êxodo 32, 1-8)

As nações que cercavam Israel acreditavam que a imagem não somente era um símbolo ou representação da divindade, mas sim a própria divindade. Era uma espécie de “clone” da divindade. Por isso, quando Raquel esposa de Jacó, rouba os ídolos de seu pai Labão, ele se queixa que lhe roubaram seus deuses, não suas imagens:

"Agora que já partiste, uma vez que tinhas tanta saudade da casa de teu pai, por que roubaste meus deuses?" (Gn 31,30)

Também Micas acusou a tribo de Dã de roubar o seu deus, enquanto estes marchavam só com a imagem:

"Assim, depois de terem tomado o deus que Micas fabricara…" (Jz 18,27)

Então o povo de Deus convivia com tal realidade e era advertido frequentemente quanto à idolatria:

"Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam," (Êxodo 20,3-5)

Pelo próprio contexto vemos que a passagem não se refere a “imagens” em si, e sim a “deuses”, pois como já foi dito, na época o povo judeu estava embebido da idolatria pagã egípcia. Os deuses egípcios eram todos representados em imagens e pinturas, daí vem a proibição para que os judeus não mais fizessem as imagens destes deuses. Vejamos um outro exemplo em que Deus condena a idolatria:

"Queimareis os ídolos dos seus deuses. Não cobiçarás a prata e o ouro que os recobrem, nem os tomarás para ti, para que não caias numa armadilha, pois são uma coisa abominável a Iahweh teu Deus." (Deuteronômio 7, 25)

Tanto nos exemplos citados acima, quanto em diversas outras passagens bíblicas, Deus adverte e proíbe fazer imagem de ídolo, e não a confecção de imagens em si. Vide que até mesmo os protestantes – que deturpam tais versículos das escrituras – utilizam-se de imagens, pois se fôssemos levar tais passagens bíblicas ao pé da letra, não poderíamos possuir fotos de entes queridos, pinturas de nenhum tipo, de pessoa ou animal, não poderíamos ter ilustrações em nossos livros e revistas, e não poderíamos assistir vídeos. Nem mesmo os próprios protestantes estariam seguindo tais textos da forma que interpretam.

A verdade é que não temos nenhuma ocorrência de proibição da confecção de imagens – em nenhum versículo sequer – nem por Jesus, nem pelos apóstolos, nem pelos anjos.

Lembremos que fazer uso do livre exame das escrituras e tirar conclusões pessoais – que contradizem a legítima interpretação das escrituras ensinada pelo magistério da Igreja – é perigoso e pode levar à ruína:

"Isto mesmo faz ele em todas as suas cartas, ao falar nelas desse tema. É verdade que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo-o de antemão, precavei-vos, para não suceder que, levados pelo engano desses ímpios, venhais a cair da vossa firmeza." (2 Pe 3, 16-17)

Tomadas as cautelas contra o perigo da idolatria, Deus não somente permitiu, mas até mandou que se fizessem imagens sagradas. Veja: Deus manda Moisés colocar 2 querubins de ouro na Arca da Aliança, onde Javé falava com seu povo:

"Farás também um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento e um côvado e meio de largura. Farás dois querubins de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; faze-me um dos querubins numa extremidade e o outro na outra farás os querubins formando um só corpo com o propiciatório, nas duas extremidades. Os querubins terão as asas estendidas para cima e protegerão o propiciatório com suas asas, um voltado para o outro. As faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho que te darei. Ali virei a ti, e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel." (Ex 25,17-22)

Deus ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, e quem olhasse para ela seria salvo:

"e Iahweh respondeu-lhe: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá.” Moisés, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia." (Nm 21,8-9)

Se Deus realmente tivesse proibido a confecção e uso de imagens, estaria Deus infinitamente perfeito se contradizendo? Obviamente não, a verdade que nos transmite a tradição apostólica e o magistério da Igreja – nos ensinando a legítima interpretação das sagradas escrituras – é que Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando uma imagem é um ídolo (falso deus), que é colocado no lugar do Deus verdadeiro, ela é abominável.

No Templo construído por Salomão foram colocados querubins de madeira junto à Arca da Aliança. E as paredes do templo tinham imagens de querubins. Tudo feito com ordem de Deus:

"No Debir, ele fez dois querubins de oliveira selvagem… “Ele tinha dez côvados de altura. Uma asa do querubim tinha cinco côvados e a outra asa do querubim também tinha cinco côvados, ou seja, de uma extremidade à outra das asas havia a distância de dez côvados. O segundo querubim tinha também dez côvados; ambos os querubins tinham a mesma dimensão e o mesmo formato. A altura de um querubim era de dez côvados, e essa também era a altura do outro. Colocou os querubins no meio da sala interior; tinham as asas estendidas, de sorte que a asa de um tocava uma parede e a asa do outro tocava a outra parede e suas asas se tocavam uma na outra, no meio da sala. Revestiu de ouro os querubins. Em todas as paredes do Templo, ao redor, tanto no interior como no exterior, mandou esculpir figuras de querubins, palmas e flores. […] os dois batentes eram de oliveira selvagem. Mandou esculpir neles figuras de querubins, palmeiras e flores e cobriu-as de ouro; mandou cobrir de ouro os querubins e as palmeiras." (1Rs 6,23-29.32)

"Com efeito, os querubins estendiam suas asas sobre o lugar da Arca, abrigando a Arca e seus varais." (1Rs 8,7)

A seguir, o profeta Ezequiel nos narra sua visão do templo:

"Desde a entrada até o interior do Templo, bem como por fora, sobre toda a parede em torno — tanto por dentro como por fora — estavam esculpidos querubins e palmeiras, uma palmeira entre dois querubins. Cada querubim tinha duas faces: uma face de homem voltada para a palmeira de um lado e uma face de leão voltada para a palmeira do outro lado, isso em torno do Templo. Os querubins e as palmeiras estavam esculpidos sobre o muro, desde o chão até em cima da entrada. […] Sobre elas (sobre as portas do Hekal) estavam esculpidos querubins e palmeiras, como os que se encontravam sobre os muros…" (Ez 41,17-20 .25)

Será que um lugar repleto de imagens por todo lado é do agrado de Deus? Qual foi a reação de nosso Senhor? Repudiou e mandou destruí-las? – como fariam os iconoclastas – ou repudiou e os acusou de idolatria? – como fariam alguns protestantes – Pelo contrário, Deus deixa claro a aprovação, veja o que nos narra as escrituras:

"Ora, quando os sacerdotes saíram do santuário, a Nuvem encheu o Templo de Iahweh e os sacerdotes não puderam continuar o seu serviço, por causa da Nuvem: a glória de Iahweh enchia o Templo de Iahweh!" (I Rs 8, 10-11)

Se o próprio Deus se agrada com as imagens, mas reprova os ídolos, o que devemos nós fazer? A resposta é simples, agradarmo-nos com as imagens, mas reprovarmos os ídolos.

A Igreja Católica sempre foi adepta do uso de imagens, as antigas catacumbas cristãs apresentavam imagens bíblicas. Noé salvo do dilúvio, Daniel na cova dos leões, o peixe que simbolizava o Cristo e muitas outras.

No século III, encontramos sinagogas da Palestina com pinturas e figuras humanas. A sinagoga de Dura-Europos, na Babilônia, tinha a representação de Moisés, Abraão e outros.

Para nós católicos, as imagens não têm o mesmo significado que tinham para os pagãos, que as consideravam realmente como deuses. Nós não as adoramos e sabemos perfeitamente que são representações, seja de Cristo, seja de alguma criação de Deus. A veneração que a Igreja presta às imagens, só é válida na medida em que é oferecida indiretamente àqueles que as imagens representam.

Para finalizar, veja alguns depoimentos sobre o uso das imagens:

"Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, por essa imagem, a quem se dirige às tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os iletrados. Por essas imagens, aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler." (Papa São Gregório Magno, doutor da Igreja, †604)

"Outrora Deus invisível, nunca era representado. Mas agora que Deus se manifestou na carne e habitou entre os homens, eu represento o “visível” de Deus. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria." (São João Damasceno, †749, Ibid. I 16 PG 94, 1245s)

"Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais. Uma veneração respeitosa sem que isto seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus." (Concílio de Niceia II, 787)

"Ninguém há tão simples e iletrado que possa desculpar-se de não saber como viver retamente, quando tem diante de si a imagem do Crucificado, um livro ilustrado, escrito, de forma clara e legível, em que todas as virtudes são aprovadas e todos os vícios reprovados." (Jean Gerson, †1429)

"Tenho como algo deixado à livre escolha as imagens, os sinos, as vestes litúrgicas… e coisas semelhantes. Quem não os quer, deixe-os de lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias edificantes me pareçam muito úteis… Nada tenho em comum com os iconoclastas." (Martinho Lutero, Da Ceia de Cristo, 1528).

"O costume de segurar um crucifixo diante de uma pessoa que esteja morrendo tem mantido muitos na comunidade cristã e permitiu-lhes morrer com uma fé confiante no Cristo crucificado." (Martinho Lutero, Sermão sobre João, Capítulos 1-4, 1539; LW, Vol. XXII, 147)

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