Ela se divorciou duas vezes, teve 8 filhos, virou freira e levou Deus aos presos mais perigosos do México
Será mesmo possível uma história dessas? Uma mulher católica, que se casou e se divorciou duas vezes, que teve oito filhos de dois homens diferentes, que virou freira e chegou a fundar uma nova congregação religiosa?
Sim, essa história é verídica. A mulher que a protagoniza se aproximou de São João Paulo II no dia das mães de 1990 para lhe oferecer alguns presentes e pedir a sua bênção durante a visita do Santo Padre ao México. Ela se tornaria conhecida como o “Anjo do Cárcere” por seu trabalho pastoral no presídio de La Mesa, na violenta cidade mexicana de Tijuana, fronteira com os Estados Unidos, região de forte influência do narcotráfico.
Faz pouco mais de três anos que ela morreu, em 17 de outubro de 2013. Na minha opinião, a história demonstrará que esta mulher foi um dos grandes “pesos pesados” entre as católicas do nosso tempo.
Mary Clarke naceu em Beverly Hills, nos Estados Unidos, em 1º de dezembro de 1926. Seu pai, Joe Clarke, era empresário de sucesso. Mary e os dois irmãos foram criados em meio à opulência e à ostentação do mundo do cinema. Entre seus vizinhos havia grandes celebridades de Hollywood, como William Powell, Hedy Lamarr e John Barrymore.
Joe Clarke era um homem afetuoso, mas não frouxo, e se assegurou de conscientizar os filhos sobre a importância de ajudar os outros. Esse desejo de servir se arraigou em Mary, mas, antes de florescer plenamente, precisou esperar que a tumultuada juventude dela encontrasse paz e serenidade na vida.
Mary se casou aos 18 anos e teve três filhos, dos quais o primeiro faleceu pouco depois do parto. O casamento, porém, terminou em divórcio, o que levou Mary a se sentir distanciada de sua educação católica. Ela se uniu civilmente, em Las Vegas, com Carl Brenner, e teve com ele mais cinco filhos. Esta segunda união também desembocou no divórcio.
Mary foi se envolvendo cada vez em obras de caridade. Em 1965, acompanhou o sacerdote Henry Vetter em uma atividade de distribuição de comida, remédios e roupas para os detentos no presídio de La Mesa.
A situação terrível daquele local, considerado um dos piores presídios de todo o México, a impactou profundamente. Com o tempo, a sua crescente compaixão e amor pelo próximo se voltaria em especial aos presidiários, que se transformaram no seu ministério, no seu propósito de vida. Mary Brenner passou os dez anos seguintes indo e vindo de La Mesa, para onde levava não apenas doações, mas, acima de tudo, amor e misericórdia.
Sua presença se tornou popular entre os presos, homens e mulheres, que esperavam com tanto entusiasmo as visitas de Mary a ponto de começarem a chamá-la de “La Mamá”. Até o prefeito da cidade passou a lhe oferecer alojamento na cidade.
Quando Mary costurou para si mesma um hábito de freira e foi contar a sua história ao bispo de San Diego, dom Leo Maher, ele respondeu que já sabia tudo sobre ela, deu-lhe a bênção e validou o seu ministério. Mary escolheu o nome de Antonia, em homenagem ao seu mentor, Anthony Bowers, e, como Madre Antonia Brenner, fundou a congregação das Servas Eudistas da Décima Primeira Hora, para mulheres a partir dos 45 anos de idade que desejassem servir aos mais necessitados. Além da bênção de dom Maher, ela também recebeu a de dom Juan Jesús Posadas, bispo de Tijuana, que lhe concedeu autorização para o exercício do seu ministério.
Quando seus filhos se emanciparam, Mary doou todas as suas propriedades pessoais, renunciou à sua casa em Ventura e se mudou para o presídio de La Mesa: sim, ela obteve permissão para morar lá dentro.
Seu novo lar era uma cela de 3 metros quadrados, na seção feminina de um dos piores presídios do México. Ela viveria dali em diante como qualquer outro preso, dormiria na cela de cimento e se alimentaria da água e da comida da prisão. De manhã, fazia fila como todos os demais prisioneiros. As “comodidades” da sua cela só incluíam um crucifixo na parede, uma Bíblia, um dicionário de espanhol e uma dura cama de cadeia. Este seria o seu lar durante os 32 anos seguintes.
“La Mamá”, também chamada de “Anjo do Cárcere”, convivia livremente com traficantes de drogas, ladrões, assassinos, estupradores. Muitos desses homens e mulheres estavam entre os mais violentos e desesperados da espécie humana. A todos, ela oferecia suas orações.
Caminhava feliz em meio deles, os confortava, secava suas lágrimas e sustentava a sua cabeça nas próprias mãos em seu leito de morte. O anjo do cárcere chegou até a resolver motins internos com sua singela intervenção.
O que fazia com que aterrorizantes criminosos, alguns dos quais nunca antes tinham amado nem recebido amor, chamassem carinhosamente de “Mamãe” uma senhora nascida nos faustos de Beverly Hills? A Madre Antonia Brenner conseguia ver, de verdade, o rosto de Cristo em todos os prisioneiros com quem estabeleceu contato, levando misericórdia e amor a cada um deles. E eles lhe respondiam com o mesmo amor que recebiam.
Eu acredito que algum dia a Madre Antonia Brenner vai ser canonizada. Ela foi um exemplo para todos e nos mostra até aonde pode chegar a generosidade do amor ao próximo até o extremo, qualquer que seja a sua história. A sua vida nos demonstra que, independentemente de quem ou “o que” fomos, de onde viemos, o que fizemos, Deus sempre nos chama para Ele.
Madre Antônia, roga sempre por nós, em especial neste Ano da Misericórdia! Amém.
Via Aleteia
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