O maior medalhista olímpico de todos os tempos no Brasil não tem pés nem mãos



A HISTÓRIA CONTADA PELOS PAIS

Daniel nasceu no dia 24 de maio de 1988, às 3h30 da madrugada, na cidade de Campinas, SP, pesando 1,970 kg e medindo 41 centímetros. A mãe, que estava na 37ª semana de gravidez, conta que chorou muito quando o bebê nasceu, “sem saber por quê”. Pouco depois, os médicos comunicaram: Daniel era um garoto que tinha nascido sem os pés e sem as mãos.



Os pais, entre lágrimas e pranto, suplicaram forças a Deus, e, quando puderam se levantar e ir ao encontro do bebê, aqueles corredores da Santa Casa pareciam não ter fim. Mas…

Ao nos encontrarmos diante do Daniel e passarmos a mão em sua pele, ele sorriu. Jamais esqueceremos aquele momento emocionante!“, relatam eles próprios, em uma carta publicada no site oficial de Daniel Dias no ano de 2008.

Naquele ano, o menino sem mãos e sem pés ganharia 4 medalhas de ouro e 4 medalhas de prata nas piscinas da Paralimpíada de Pequim – depois de já ter levado 3 de ouro e 2 de prata no mundial de natação de Durban, na África do Sul, em 2006, e nada menos que 8 medalhas de ouro no Parapan do Rio de Janeiro em 2007. E ainda viriam os mundiais de Eindhoven, Montreal e Glasgow (somando incríveis 21 ouros e 4 pratas), o Parapan de Guadalajara (com 11 ouros!), a Paralimpíada de Londres (mais 6 ouros)…

O bebê Daniel ficou na incubadora uma semana até que a família pudesse voltar para a sua cidade, Camanducaia, MG. O tempo passava; os comentários surgiam; e a família ia vivendo a sua vida. Daniel completou um aninho: era uma alegria vê-lo evoluindo a cada dia!

Em 1991, Daniel passou por uma cirurgia para poder usar prótese. “Foi um dos momentos mais difíceis pelos quais nós passamos. Nem gostamos de lembrar, pela dor e trauma que isso causou em meu pequenino filho“, relata a mãe. O pequeno tinha 3 anos de idade.
Os primeiros meses foram muito difíceis e Daniel tinha de ir constantemente à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em São Paulo, para se adaptar à prótese. Daniel venceu. Daniel começou a andar. E, para os pais, aqueles eram sempre momentos de lágrimas de vitória.

O menino que nascera sem mãos e sem pés fez a pré-escola, o ensino fundamental, começou a aprender a tocar bateria e terminou o ensino médio pretendendo cursar Engenharia Mecatrônica na faculdade. Os pais testemunham que “Daniel não tem complexo, vê a vida sempre bela, ama viver e diz que de tudo é capaz: basta acreditar nos seus sonhos“.

E dedicam ao filho guerreiro e campeão um depoimento de arrepiar:

Daniel, você é nosso orgulho! Com você aprendemos cada dia mais. Deus nos deu a oportunidade de criar e formar você, e hoje agradecemos a Ele pela oportunidade que nos dá de vivermos e estarmos ao seu lado, e, acima de tudo, de saber que você é de Deus, que você tem caráter e luta por seus sonhos (…) Hoje aprendemos com você que a vida é para ser vivida um dia de cada vez, sem nos preocuparmos com o amanhã, e a noite é para repousar. O amanhã será um novo dia, um novo despertar, uma nova etapa. Nós amamos você, muito, muito, mas muito mesmo! Parabéns – e que Deus continue abençoando você cada vez mais. Em nossa vida, temos muito que agradecer, primeiramente a Deus, pois colocou você em nossas vidas, e também às várias pessoas que foram colocadas em nosso caminho e que nos ajudaram e deram forças: nossos pais, irmãos, amigos e irmãos da Igreja. Daniel! Você é uma obra única e especial! Sua vida é preciosa para o Senhor, que o criou“.



A HISTÓRIA CONTADA POR DANIEL

Minha carreira como nadador começou em 2004, no sofá de casa. Isso mesmo. No sofá. Eu estava assistindo ao Jornal Nacional e uma matéria foi ao ar contando mais uma conquista do Clodoaldo Silva nas Paralimpíadas. Me deu o estalo: ‘Eu posso praticar um esporte!’“, recorda o atleta, em depoimento publicado na rede LinkedIn.

Mas o sofá, em sua história, se limita a esse momento. Daniel era, o tempo todo, irrequieto e muito ativo. Participava das aulas de Educação Física, jogava futebol, vôlei, basquete – “o que dava pra fazer, eu fazia” – e, é claro, “a consequência disso eram as próteses que eu tanto quebrava“.

Daí a súplica da mãe: “Não joga bola hoje“, especialmente depois das inúmeras viagens até São Paulo para consertar as próteses. “Eu, claro, não aguentava“, confessa Daniel, que, depois de ver Clodoaldo na televisão, entendeu com clareza: ele também podia se tornar um competidor; um profissional.

Daniel tinha então 16 anos.

As pessoas falam que eu comecei tarde na natação. Para mim, tarde seria nunca. Além disso, sempre fiz as coisas no meu relógio“.

O único brasileiro a conquistar 3 vezes o troféu Laureus, considerado o Oscar do esporte, acrescenta:

Minhas principais conquistas são 15 medalhas em Paralimpíadas (Pequim e Londres) – sendo 10 de ouro. Já participei e consegui medalhas em  Parapanamericanos e Mundiais de Natação. Mas o meu maior troféu no esporte e na vida foi a minha primeira prótese. Quando eu olho para esta prótese, penso que foi ali que comecei a gostar de esporte. Foi quando comecei a sentir vontade de praticar esportes. E a vontade é quase tudo de que precisamos. Fé e determinação geralmente nos fazem chegar onde queremos. Sempre me aceitei como sou. Sempre fui feliz assim. Tudo é uma questão de escolha. Eu escolhi ser feliz“.

E nós, de boca aberta, em pé, aplaudindo, escolhemos agradecer emocionados e inspirados: Obrigado, Daniel!

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OBS.: Se excetuarmos as Paralimpíadas, o título de “maior medalhista olímpico brasileiro” é compartilhado pelos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, com 5 pódios olímpicos cada um.

Fonte: Aleteia Team

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