A foto deu voltas ao mundo: uma delicada urna de vidro com a imagem de Nossa Senhora da Luz permaneceu intacta depois do violento terremoto de 7,8 graus que golpeou o Equador neste último 16 de abril de 2016. Tudo na cena é destruição; menos ela, que se mantém inteira, firme e majestosa sobre os escombros.
A foto que circula nas redes sociais foi tirada na escola Leonie Aviat, da paróquia de Tarqui, em Manta, uma das regiões mais afetadas pelo sismo devastador. A escola veio abaixo.
Como foi que uma imagem tão delicada de Maria pôde resistir a um terremoto?
Para muitas das pessoas que comentaram o fato nas redes sociais, trata-se de um ícone de consolação, esperança e renovação diante de um panorama de ruína, morte e sofrimento.
Em vários comentários, fala-se até em milagre de Nossa Senhora.
Para outros internautas, no entanto, o acontecimento não passa de mero acaso – e de um acaso muito infeliz, quase um “deboche”: que tipo de gente poderia celebrar como milagrosa a preservação de uma simples estátua enquanto mais de 600 pessoas de carne e osso morreram no desastre, inclusive crianças e bebês?
Milagre?
De fato, o acontecimento não é um milagre nem pode ser considerado como tal pela Igreja, que segue procedimentos muito rígidos de investigação científica para declarar a natureza sobrenatural de qualquer fenômeno – os milagres de cura, por exemplo, chegam a demorar décadas até ser reconhecidos: os fatos precisam ser cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de especialistas. A propósito, você pode conhecer um pouco mais sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja sobre os 7 critérios para se declararem milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes, sobre 5 milagres que a ciência não conseguiu explicar até hoje, e sobre a médica ateia que avaliou mais de 1400 milagres e testemunhou que eles existem.
No caso da imagem de Nossa Senhora que permaneceu intacta em meio ao forte terremoto equatoriano, a Igreja não pode falar tecnicamente em milagre porque existem explicações científicas plausíveis para o acontecimento. Aliás, edificações inteiras ficaram em pé ao lado de outras que ruíram dramaticamente, bem como objetos vários ficaram intactos em meio aos milhares de pedaços em que outros muitos se transformaram.
Deixando isto claro, nada impede que se reconheça na imagem de Maria um sinal inspirador de encorajamento, esperança e sentido no meio do absurdo da tragédia. Afinal, Deus sempre fala através de sinais, tanto naturais quanto sobrenaturais, e sempre deixa à liberdade de consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma “prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais.
Para um cristão, a existência de Deus, e de um Deus que é Amor, não é incompatível com a experiência transitória do sofrimento e da tragédia: o próprio Deus, Encarnado em Cristo, enfrentou nada menos que a crucificação e morte na cruz para remir a humanidade que tinha escolhido o pecado em detrimento da graça. A fé cristã propõe que a vida terrena é uma breve experiência do bem e do mal que a nossa liberdade pode escolher antes de termos acesso à eternidade para a qual fomos criados – e na qual, conforme a nossa escolha que o próprio Deus respeitará, vamos viver junto d’Ele para sempre ou afastados d’Ele para sempre.
Outros sinais
O trabalho incansável de bombeiros e voluntários equatorianos permitiu salvar a vida de muitas pessoas que tinham ficado presas nos escombros.
Três dias depois do terremoto, também na localidade de Tarqui, três pessoas foram resgatadas vivas pelos bombeiros de Quito, que, no mesmo dia, resgataram outras duas no Distrito Metropolitano. Ainda em Tarqui, já tinham sido resgatadas três pessoas das ruínas de um mercado, 32 horas após o sismo.
Outros surpreendentes resgates ocorreram na cidade costeira de Pedernales, o próprio epicentro da catástrofe, onde a Polícia Nacional salvou um homem de 65 anos e outro de 82. Passadas 20 horas dos tremores, Pedernales já tinha sido palco do também surpreendente resgate de uma menina presa nos escombros de um prédio.
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre, testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.
via Aleteia
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