Líder satânico promete inaugurar um templo de adoração a Lúcifer na Colômbia


No final de 2015, uma notícia gerou alarde no departamento* colombiano de Quindío: foi anunciado que já está pronto na região um templo dedicado à adoração de Lúcifer; o local, no entanto, não pôde ser inaugurado na data prevista, 27 de dezembro, devido a problemas legais.




As imagens do templo veiculadas pela mídia do país mostram um salão com bancos vermelhos e um cenário adornado com mantos da mesma cor, em cujo centro há uma imagem dourada do diabo, sentado ao lado de um púlpito com a cruz invertida. Chama a atenção, logo de cara, a paródia aos espaços cristãos de celebração, além do uso predominante das cores preta e vermelha.

A fachada do templo tem três vitrais com imagens de cruzes invertidas e uma porta de aço com aldravas nas quais aparece talhado o rosto do diabo. Na parte traseira da edificação, mais um vitral com a estrela de cinco pontas e a figura de um bode no centro.

Reação da Igreja
Dom Pablo Emiro Salas manifestou a sua rejeição à ideia de um templo satânico dentro do território abrangido pela diocese de Armenia, da qual é bispo desde 2014. Várias paróquias católicas já celebraram vigílias de oração pedindo a proteção de Deus. Comunidades evangélicas também incluíram esta intenção em seus cultos.
Preocupação civil
A mídia colombiana relatou a preocupação dos vizinhos com a abertura do “templo” – ou “capela”, como também vem sendo chamado devido às proporções pequenas do edifício. 

As autoridades observam a novidade com atenção. Um delegado local, Ricardo Suárez, afirmou que “o país respeita a liberdade de culto”, mas observou que essa liberdade é regulada pela legislação e ressaltou que as autoridades deverão exigir que o local cumpra todas as leis pertinentes.

A quem os adeptos adoram?
O promotor da capela satânica é Víctor Damián Rozo, que, em declarações à rádio Blu, procurou apresentar diferenças entre Satanás e Lúcifer: “Nós não adoramos Satanás nem fazemos sacrifícios. Nós veneramos Lúcifer, que, para nós, é deus. Isso não tem absolutamente nada a ver com o diabo, como alguns creem”.

Apesar do jogo de linguagem com os diversos nomes dados pela fé cristã ao diabo, ainda fica claro de quem ele se declara seguidor: “Simplesmente adoramos Lúcifer, que é o nosso ‘anjo de luz’, aquele que se rebelou contra o grande ditador, que é Deus”. Víctor Damián Rozo também explica que os rituais previstos em seu templo consistem no “agradecimento ao anjo de luz pelos favores recebidos”.

O líder do templo satânico da Colômbia afirma ainda que “as autoridades já tentaram muitas vezes nos fechar, mas todos os nossos papéis estão em ordem e eles não podem fazer nada”. Não só isso: ele aproveita suas aparições na mídia para fazer um provocativo proselitismo, sugerindo que as autoridades “deveriam tentar adorar Lúcifer para ver como ele muda a sua vida”.



Quem é Víctor Damián Rozo Villarreal?
Existem 13 páginas e 14 perfis pessoais de Víctor no Facebook. Nem todos estão atualizados, mas todos apresentam a mesma estética ocultista e mensagens semelhantes. Se contarmos os seus blogs, a lista ultrapassa 160, abordando temas como feitiços, vodu, pactos com o diabo e magia negra. Víctor também publica vídeos no YouTube e mantém um site com “instruções” para quem quiser fazer um pacto com o diabo.

A finalidade de tal pacto, apresentada entre abundantes erros de ortografia, é “contribuir para o crescimento material de todas as pessoas do mundo por meio de uma assessoria eficaz para fazer um pacto com o diabo, com resultados 100 % efetivos, ficando satisfeitos e comprazidos todo aquele que quiser saber como se faz um pacto com Satanás”.

Pois é: Víctor se esqueceu, aqui, da sua própria diferenciação entre Satanás e Lúcifer…
O líder satânico espera “contar em 2024 com 10 milhões de afilhados ao redor do mundo, que possam dar fé e testemunho de que fazer um pacto com Lúcifer nada mais é do que mudar de doutrina e ter encontrado a felicidade integral ao fazer um pacto com o diabo”.
Ele afirma já ter mais de 4.000 “afilhados”. Sua nova capela, chamada por ele de “Sementes de Luz”, teria hoje 200 “fiéis”.

O pacto com o diabo
Ao explicar melhor o tal pacto que “nada mais é que mudar de doutrina, mudar de deus”, Víctor informa que ele consiste, na prática, em fazer a própria vontade sem normas religiosas nem morais. Quem impede essa postura é a Igreja católica, “a grande rameira” que impõe aos seus membros uma doutrina da qual Víctor quer “libertá-los”. Diz ele: Os católicos “criaram um tabu sobre Lúcifer para fazer você acreditar que ele é mentiroso e mau e levaram você para onde eles queriam. E tudo isso para enriquecer o próprio bolso e para manter o povo submisso ao seu poder”.

A finalidade do pacto satânico, segundo o fundador do templo, é o “êxito financeiro”, apelo certamente chamativo para muita gente. Víctor vai além: “Ele não vai dar só dinheiro; vai dar tudo o que você pedir”.

O que o líder satânico chama de “processo” para a realização do pacto dura 25 dias e, segundo ele, “não tem consequências negativas para quem faz o pacto nem para a sua família”. Não haverá sequer “possessões demoníacas”, promete Víctor. Depois do pacto, será possível “levar uma vida normal. Isto significa que você vai poder assistir a cerimônias religiosas como casamentos, batizados, sem importar a religião. Mas você, no íntimo, vai saber quem é o seu deus”.

Chegamos então ao ponto crucial desta história: Víctor afirma que o adepto do seu templo “não terá que fazer nenhum tipo de sacrifício nem ritual satânico. O sacrifício sou eu que faço”. Ele estabelece para os seus seguidores uma relação pessoal de dependência dele próprio. E é bem claro: “Você vai seguir as minhas instruções ao pé da letra. Eu vou dar as instruções diariamente por e-mail ou por telefone”.

E dá até um exemplo: “Se eu mando uma oração para você fazer às 11h, é nessa hora que você tem que fazer, não antes nem depois, porque temos que estar coordenados. Na hora em que você estiver fazendo a oração, eu vou estar trabalhando no meu altar com a sua fotografia e com os seus dados”.

A reação do bispo de Armenia
Dom Pablo Emiro Salas reagiu com rapidez à notícia da abertura do templo satânico. Num comunicado detalhado, ele resume a doutrina católica sobre o diabo: ele “existe, não é um mito”, conforme testemunham a Sagrada Escritura, as palavras do próprio Jesus, o magistério da Igreja, o catecismo e as frequentes alusões do papa Francisco.

O bispo faz um discernimento cristão do culto satânico observando que se trata de “uma forma de idolatria; um autêntico pecado mortal. Qualquer forma de culto satânico é uma opção pelo diabo em vez da fé em Deus”.

Dom Pablo se dirige ao seu clero e aos fiéis para esclarecer a reação adequada dos crentes: “Vivamos com autenticidade a nossa fé e rejeitemos toda forma de sedução enganosa do diabo. A vida cristã é um combate, uma permanente luta contra o mal; estaremos sempre combatendo o inimigo que quer nos separar de Deus”. A oportunidade, ressalta, é de “evangelizar com seriedade”.

“Não sejamos ingênuos nem covardes. O culto a Satanás será sempre um desafio não só para a fé, mas também para a sociedade, para a moral pública, para as famílias, para os nossos filhos, para a ordem institucional”, já que o satanismo gera “situações muito dramáticas que põem em risco a integridade das pessoas que o praticam e que, em muitos casos, ainda constituem delitos perante as leis do país”. Por fim, o bispo de Armenia pede às autoridades que zelem “pela integridade das pessoas, especialmente das crianças, adolescentes e jovens de Quindío”.

* Um “departamento”, na Colômbia, equivale a um Estado no Brasil, a um distrito em Portugal ou a uma província em Angola e Moçambique. 

Texto: Luis Santamaría Del Río

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