O naufrágio de um barco lotado com centenas
de pessoas na costa da Líbia causou o que pode vir a se confirmar como
a mais mortal tragédia conhecida no transporte de migrantes. O evento
intensificou a pressão sobre a União Europeia neste domingo para que finalmente
sejam atendidas demandas antigas.
As contagens do número de pessoas a bordo
variam, com a Guarda Costeira da Itália dizendo que o barco naufragado tinha
capacidade para “centenas” de pessoas. Promotores italianos disseram que um
sobrevivente de Bangladesh enviado à Sicília para tratamento disse que
haviam 950 pessoas abordo, incluindo centenas que haviam sido presos no porão
por contrabandistas. Mais cedo, autoridades haviam dito que um sobrevivente
afirmou haver 700 pessoas no barco.
O premiê da Itália, Matteo Renzi, disse
que as autoridades italianas não “estão em condições de confirmar ou verificar”
se o barco transportando migrantes que naufragou ao largo da costa da Líbia
tinha de fato 700 pessoas a bordo.
Dezoito embarcações se uniram no esforço de
resgate, mas apenas 28 sobreviventes e 24 corpos foram retirados da água até o
anoitecer. Estes pequenos números podem fazer mais sentido se um grande número
de pessoas tiver ficado presa no porão, disse um oficial da polícia de
fronteira italiana.
O promotor Giovanni Salvi disse à Associated
Press por telefone que um sobrevivente de Bangladesh descreveu a situação no
barco de pesca a outros promotores que o entrevistaram num hospital. O homem
falou que pelo menos 300 pessoas estavam no porão, presos ali por
contrabandistas. De acordo com ele, do total de pessoas na embarcação, 200 eram
mulheres e algumas dezenas eram crianças.
Salvi ressaltou que ainda não há confirmação
sobre a veracidade das informações dadas pelo sobrevivente e disse que as
investigações ainda estão em curso.
A polícia de fronteira italiana afirmou ainda
que o mar é profundo demais para atuação de mergulhadores, o que pode indicar
que o total de vítimas jamais será conhecido. O mar da Líbia tem cerca de 5
quilômetros de profundidade.
Com a tragédia deste domingo, a demanda por
ações mais decisivas na Europa aumentaram e autoridades da França, Espanha,
Alemanha e Reino Unido pediram uma resposta unificada.
“A Europa pode fazer mais e a Europa deve
fazer mais”, disse Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu. “É uma
vergonha e uma confissão de fracasso como muitos países empurram a
responsabilidade e quão pouco dinheiro oferecemos para missões de resgate”,
completou.
O presidente da França, François Hollande,
afirmou em entrevista na televisão que a Europa precisa mobilizar mais aviões e
navios. O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy disse que “palavras não mais
vão bastar”.
O Estado de S. Paulo, 20-04-2015.