Contemplar o rosto de Jesus Cristo com a Virgem Maria é, antes de mais
nada, recordar os mistérios do Filho, o Verbo de Deus humanado. Essa
recordação deve ser entendida no sentido bíblico de memória, do hebraico
zikaron, que atualiza as obras realizadas por Deus na história da
salvação.
Fazer memória das obras do Senhor era comum na religião do povo de Israel,
ao qual Nossa Senhora pertencia. Por isso, os mistérios de Cristo que lhe
eram apresentados em termos quase incompreensíveis, “Maria os conservava,
meditando-os no seu coração”1. Dessa forma, a Santíssima Virgem foi a
primeira a fazer memória, a meditar profundamente os mistérios do Filho de
Deus feito Homem, tornando-se para nós Mestra por excelência na
contemplação do rosto de Cristo e de Seus santos e divinos mistérios.
A Bíblia, toda ela intimamente ligada à religião judaica, é a narração dos
acontecimentos salvíficos, que culminam no memorial da Paixão, Morte e
Ressurreição de Cristo. Esses mistérios não constituem somente um “ontem”,
não são apenas recordações de fatos do passado, mas se atualizam no “hoje”
da salvação. Essa atualização se realiza de modo privilegiado na Liturgia
da Santa Missa. O que Deus realizou, há quase dois mil anos, alcançou não
somente as testemunhas diretas dos mistérios de Cristo, mas também, pelo
dom da graça, os homens e mulheres de todos os tempos. Todavia, essa
atualização não se limita à liturgia, mas acontece nas devoções que têm
ligação com esses mistérios. “Fazer memória deles, em atitude de fé e de
amor, significa abrir-se à graça que Cristo nos obteve com os seus
mistérios de vida, morte e ressurreição”.
A atualização, o memorial dos mistérios de Jesus Cristo têm, no terço
mariano, sua expressão popular mais profunda. Desde tempos imemoriais,
rezou-se e tornou-se cada vez mais conhecida e valorizada essa oração tão
querida pelo povo de Deus. Sua grande popularidade se deve,
principalmente, ao fato de o Rosário ser um método simples para contemplar
o rosto de Jesus com Maria. Como método de oração, ele deve ser utilizado
para seu verdadeiro fim, ou seja, a contemplação de Cristo, e não como fim
em si mesmo. Considerando que o Rosário é fruto da experiência de devoção
dos cristãos, há séculos, esse método não deve ser subestimado, pois estão
a seu favor a experiência de inumeráveis santos, como São Domingos de
Gusmão, São Luís Maria Grignion de Montfort, São Pio de Pietrelcina e São
João Paulo II, que praticaram e ensinaram essa piedosa devoção com
abundantes frutos espirituais.
A Ave-Maria é o elemento mais encorpado do Rosário, que faz dele uma
oração mariana por excelência. Entretanto, o carácter mariano da Ave-Maria
não se opõe ao cristológico, mas até o sublinha e exalta. A primeira parte
da Ave-Maria, tirada das palavras dirigidas a Maria pelo Anjo Gabriel e
por Isabel, é a contemplação adoradora do mistério de Cristo, que se
realiza na Virgem de Nazaré. Essas palavras exprimem a admiração do Céu e
da Terra, e transparecem o encanto do próprio Deus ao contemplar a Sua
obra-prima – a encarnação do Filho no ventre virginal de Maria –, que nos
remete ao olhar contemplativo do Criador4, daquele primordial “pathos com
que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos”. “A
repetição da Ave-Maria no Rosário sintoniza-nos com esse encanto de Deus:
é júbilo, admiração, reconhecimento do maior milagre da história”. A
recitação dessa oração é também o cumprimento da profecia de Maria: “
Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada”.
O “centro de gravidade” da Ave-Maria, uma espécie de “dobradiça” entre a
primeira e a segunda parte dessa oração, é o nome de Jesus. Numa recitação
precipitada e desatenta, perdemos esse centro e também a ligação com o
mistério de Cristo que contemplamos. Dessa forma, deixamos de colher
preciosos frutos, pois “é pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao Seu
mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário”.
Nesse sentido, em algumas regiões costuma-se realçar o nome de Cristo,
acrescentando, logo depois, uma passagem bíblica que recorda o mistério
meditado9. Esse costume é muito louvável, especialmente na recitação
pública do Rosário, e exprime, de forma intensa, a fé em Jesus Cristo,
aplicada aos diversos momentos da Sua vida. Repetir o nome de Jesus, o
único nome do qual se pode esperar a salvação, juntamente com o nome de
Maria, deixando que seja a Mãe a nos levar para o Filho, é um caminho de
assimilação que nos faz penetrar cada vez mais profundamente na vida de
Cristo. “Dessa relação muito especial de Maria com Cristo, que faz d’Ela a
Mãe de Deus, a Theotókos, deriva a força da súplica com que nos dirigimos
a Ela depois na segunda parte da oração, confiando à sua materna
intercessão a nossa vida e a hora da nossa morte”.
Assim, a contemplação do rosto de Jesus Cristo com a Virgem Maria é o
memorial, a atualização dos mistérios da salvação no hoje da nossa vida. A
atualização desses mistérios acontece de modo privilegiado na liturgia, na
celebração da Eucaristia, memorial do mistério pascal de Cristo, da Sua
Paixão, Morte e Ressurreição. A atualização se dá também naquelas devoções
em que são contemplados os mistérios de Cristo. Entre essas devoções,
brilha de modo inigualável o Rosário, no qual meditamos com a Virgem Maria
os mistérios da nossa salvação. Nele, contemplamos com Maria o rosto
humano de Deus. Por meio do Rosário, a Mãe de Deus nos leva ao seu Filho,
para contemplarmos Sua face e fazer a Sua vontade: “Fazei o que ele vos
disser”12. Por fim, pela oração do Rosário nos confiamos à materna
intercessão da Virgem Mãe de Deus junto ao seu amado Filho Jesus
Cristo.
Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!
via Canção Nova
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