A respeito do martírio, dos sofrimentos, da Santíssima Virgem Maria no monte Calvário, não é necessário dizer outra coisa senão: contempla Nossa Senhora junto à cruz, à vista de Jesus agonizante (cf. Jo 19, 25), e depois, vê se há dor semelhante a sua dor de Mãe. Não há dor maior que a da Mãe junto ao Filho no altar da cruz, por isso, a piedade católica aplica à Mãe de Deus as palavras do Profeta Jeremias: “Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor semelhante à minha dor” (Lm 1, 12). Ao contemplar Cristo crucificado, “o que mais atormentou a nossa Mãe dolorosa, foi o ver que ela mesma com sua presença aumentava as aflições do Filho e que para grande parte dos homens o sangue divino seria causa de maior condenação” (Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III, p. 74). Por isso, quando passarmos por sofrimentos, lembremos que se Jesus e Maria, apesar de inocentes, sofreram tanto por amor a nós, que merecemos mil infernos, e não nos desagrademos em sofrer algumas penas por amor a eles e em satisfação pelos nossos pecados.
Meditando sobre a cena do Calvário, Santo Afonso nos convida a contemplar um novo martírio, de uma Mãe condenada a ver morrer diante de seus olhos, no meio de grandes tormentos, o Filho inocente e amado com todo o afeto de seu Coração Imaculado. Ao pensar que Nossa Senhora estava aos pés da cruz de Cristo, “não é necessário dizer outra coisa do martírio de Maria: contempla-a vizinha à cruz, à vista do Filho moribundo, e depois vê se há dor semelhante à sua dor” (Idem, ibidem).
Podemos nos perguntar, como fez São Boaventura a Nossa Senhora: por que fostes ao Calvário? Devia reter-vos o constrangimento, a violência do martírio, pois que o sofrimento de seu Filho Jesus foi também o vosso, sendo vós sua Mãe. Ao menos devia reter-vos o horror diante de tão grande crime, ao ver um Deus crucificado por suas próprias criaturas. Mas, “o vosso Coração não pensava no seu próprio sofrimento, mas na dor e na morte do amado Filho, e por isso, quisestes vós mesma assistir-Lhe, ao menos para Lhe mostrar a vossa compaixão” (Idem, ibidem).
Santo Afonso Maria nos ajuda a meditar mais profundamente e contemplar a paixão de Jesus Cristo e da Virgem Maria: “Oh Deus! Que espetáculo doloroso ver o Filho agonizante na cruz e, ao pé da cruz, ver agonizar a Mãe, que sofria no coração todas as penas que o Filho padecia no corpo!” (Idem, p. 74-75). Para contemplar o sofrimento da Mãe e do Filho, vejamos a descrição da Virgem Maria, na revelação a Santa Brígida, sobre o estado lastimável do seu Filho agonizante, conforme ela o presenciou no Calvário: “’Estava meu amado Jesus na cruz, todo aflito e agonizante; os olhos estavam encovados e meio fechados e amortecidos; os lábios pendentes e a boca aberta; as faces descarnadas, pegadas aos dentes e alongadas; afilado o nariz, triste o rosto; a cabeça pendia-lhe sobre o peito; os cabelos estavam negros de sangue, o ventre unido aos rins; os braços e as pernas inteiriçadas e todo o resto do corpo coalhado de chagas e de sangue.’ Ó pobre de meu Jesus! Ó martírio cruel para o coração de uma mãe!” (Idem, p. 75).
São João Crisóstomo diz que se estivéssemos no Calvário, teríamos visto dois altares, nos quais se consumavam dois grandes sacrifícios: um no corpo de Jesus Cristo, outro no coração da Virgem Maria. Todavia, Santo Afonso diz que é melhor, como São Boaventura, considerar no Calvário um só altar, que é “a cruz do Filho, no qual, juntamente com a vítima do Cordeiro divino, é sacrificada também a Mãe” (Idem,ibidem). Por isso, Boaventura pergunta a Maria: “’Ó Maria, onde estais?’ Junto à cruz? Ah! Mais exatamente direi que estais na mesma cruz, a sacrificar-vos, crucificada juntamente com Jesus” (Idem,ibidem).
Segundo Santo Afonso, “o que mais afligia a nossa Mãe dolorosa, era o ver que ela mesma, com a sua presença, aumentava as aflições do Filho, […] a mesma pena que enchia o Coração de Maria, transbordava para amargurar o Coração de Jesus; e Jesus padecia mais pela compaixão da Mãe, do que pelas suas próprias dores” (Idem, ibidem). Nossa Senhora sofreu ainda mais, pois, lembrando-se da profecia de Simeão, desde então previu que os sofrimentos de seu Filho Jesus Cristo seriam, por nossa culpa, inúteis para grande parte de nós, e que estas dores seriam causa de maior condenação para muitos.
Conscientes das nossas fraquezas, roguemos a Virgem das Dores, pelos merecimentos do seu martírio com seu Filho na Cruz, para que ela nos obtenha verdadeira dor por nossos pecados, verdadeira conversão de vida, zelo fervoroso pela salvação das almas, terna compaixão pelos sofrimentos de Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima. “Se Jesus e Maria, apesar de tão inocentes, quiseram sofrer tanto por nós, não recusemos sofrer alguma coisa por amor deles. Por isso digamos com São Boaventura: ‘Ó Maria, se no passado vos ofendi, vingai-vos agora ferindo-me o coração; se vos servi fielmente, também outra recompensa não vos peço, senão que me firais’. Demais indecoroso seria para mim ficar ileso, ao passo que Vos vejo repletos de dores, a vós e a meu Senhor Jesus Cristo. […] Reparti comigo as penas’” (Idem,p. 76).
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
via Canção Nova
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