Os olhares do
mundo se dirigiram para o Rio de Janeiro durante os dias da Jornada Mundial da
Juventude! Evidentemente que a mídia em geral enfocou principalmente, como não
poderia deixar de ser, a presença, os gestos e as palavras do Papa Francisco em
sua primeira viagem pastoral, e justamente à “sua” América Latina. Realmente,
foram de “lavar a alma” aqueles belos momentos. Muitos artigos ainda serão
publicados sobre cada gesto, sobre cada frase ou cada possível omissão de
palavra na frase ou ainda sobre os momentos escolhidos para que o primeiro
peregrino da Jornada estivesse em contato com os jovens presentes no Rio de
Janeiro, e, através das mídias, com o mundo todo. Nunca saberemos quantos
milhões de pessoas foram atingidas naqueles dias e que foram convidadas para a
construção de um mundo mais justo e humano. Porém, a Jornada teve muitos
outros olhares.
Os encontros menores, os países presentes, a primeira viagem de muitos jovens fora de sua pátria, a experiência das paróquias, dos padres, das famílias acolhedoras! E o que dizer da feira vocacional, o encontro de grupos nacionais em grandes momentos, a presença das relíquias de santos e beatos, as mostras culturais, os shows variados pela cidade?
E a presença de jovens que embelezaram todos os cantos durante mais de uma semana levou também à admiração e simpatia os habitantes dessa cidade. Já tinham dado um grande passo: abriram suas casas e seus corações ao irmão que veio de longe! Nisso, as pesquisas foram unânimes: a alegria dos que foram acolhidos pela generosidade e fraternidade dos cariocas! Os que para cá vieram experimentaram que foram acolhidos como irmãos! Isso aconteceu tanto nas residências como nas paróquias. Todos se esmeraram. Até mesmo para resolver problemas surgidos de última hora, como falta de vistos de entrada, perda de passaportes ou de outros documentos, dificuldades de alojamento para quem não tinha feito inscrição, acolhimento em dias não previstos, alimentação a mais fornecida com carinho para esses jovens que fizeram essa longa peregrinação.
Essa JMJ, foi, sem dúvida, uma ação de Deus
na vida de todos nós! Para quem organizou, nesses quase dois anos, todos os
detalhes e discutiu todas as possibilidades, tudo o que houve não se pode
atribuir a nós. Creio que foi o evento que mais teve mudanças que podemos
saber: desde a mudança da base aérea de Santa Cruz, passando pela renúncia e
eleição do Papa, até a mudança do local das celebrações finais. Nesse mesmo
contexto, tivemos a dificuldade financeira da Europa, as manifestações no
Brasil, acontecimentos que mudaram as questões de segurança como o incêndio da
casa de espetáculos no sul e o atentado nos EUA, que fizeram com que as normas
se modificassem a cada momento com novas exigências. Claro que as pequenas
manifestações de pessoas que não concordam com os valores da Igreja também
estiveram presentes, mas foram respondidas com paz e fraternidade de quem não
estava para brigar, mas para dar as mãos e anunciar a paz! A colaboração de
todas as autoridades e organizações trouxe a certeza de que o Senhor conduz a
história. Não teria como fazer tantas mudanças e continuar tudo tão em paz,
inclusive com a limpeza inédita da praia de Copacabana após um grande evento, e
a não ocorrência de violência em uma concentração de mais de três milhões e
meio de pessoas no mesmo lugar! Num espaço em que se falavam todas as línguas,
a “linguagem do amor” prevaleceu. Contagiou os moradores de Copacabana, que
estão acostumados a ver sua região ter grandes eventos, e viram naqueles dias
que algo novo estava no ar.
As dificuldades para chegar perto do Santo
Padre são naturais, pois ele é um só para milhares de pessoas, mas de uma forma
ou outra ele se aproximou o mais possível. Até mesmo a segurança, tão
preocupada, viu que a única ameaça que havia era o “grande amor” do povo para
com o Santo Padre. Infelizmente, em algumas celebrações, na entrada de
sacerdotes prevaleceu mais a força que a caridade, mas tenho certeza de que
eles saberão perdoar esses momentos mais difíceis. Em geral, a alegria era
contagiante.
As catequeses nas diversas línguas por todos os cantos da cidade e os encontros menores falaram muito ao coração de quem recebia e de quem participava. Não era só um evento de massa! Foi um evento em que houve contatos pessoais, partilhas, meditação, oração! O que dizer dos momentos de oração silenciosa não só em Copacabana, mas também nas paróquias, com jovens fazendo vigílias nas Igrejas?
Esses jovens são responsáveis por um mundo mais justo e humano! Estão dispostos a ir às ruas, como pediu o Papa, também para testemunhar que um mundo novo, sem violência, sem guerras, sem divisões, é possível. Vieram de todos os tipos de regime de governo e sabem o que é cada situação, ou de exclusão ou de ditadura. Sabem também de sua responsabilidade no mundo de hoje e de amanhã. Essa experiência de troca universal, que houve aqui no Rio de Janeiro, permanecerá em seus corações, e tenho certeza de que já os entusiasmou para viverem ainda mais sua vocação e sua missão.
Nós, que os recebemos aqui, também fomos transformados! Mesmo os corações mais empedernidos se abriram. Essa experiência por nós vivida precisa ser continuada: abertura ao outro, acolhimento do irmão, alegria pela presença das pessoas em nossas vidas, protagonismo do jovem, preocupação com a paz e a fraternidade, luta por um mundo mais justo, diálogo com toda a sociedade e anúncio de Jesus Cristo, Nosso Senhor, caminho, verdade e vida!
Irmãos e irmãs: a Jornada foi um evento
importante para nossa vida e para nosso país. Aqui, nessa cidade, vimos a mão
de Deus agir. Agora, precisamos continuar nesse mesmo caminho, buscando
concretizar tantos sonhos e tantos desejos expressos naqueles dias. Cabe a cada
um de nós, às nossas paróquias e pastorais darem os passos dentro daquilo que o
Senhor nos concedeu por inteira liberalidade e misericórdia.
Teremos ainda muitas reflexões a fazer, pois melhor que ninguém cada um que viveu aqueles momentos terá muito a contribuir para o presente e o futuro. Agradeço a Deus que se mostrou fiel em tudo o que aconteceu, peço-Lhe para que todos os jovens que para cá vieram se tornem protagonistas em seus ambientes, e exorto a todos dessa querida arquidiocese a estarmos ainda mais unidos para discernir os caminhos que o Senhor nos apontou naqueles abençoados dias.
Aceitem o meu abraço de coração agradecido a todos e minhas orações na intenção do presente e do futuro do mundo que aqui esteve reunido durante uma semana.
Dom Orani João Tempesta,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do
Rio de Janeiro/RJ
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