É bom dizer antes de tudo que o “Evangelho Secreto da Virgem Maria” não é um texto divinamente inspirado e tampouco aceito como verdadeiro ou canônico. Sua autoria ainda é incerta, além de em muitos trechos existirem equívocos teológicos. Certamente ele é apenas uma composição literária dos primeiros séculos do cristianismo onde o autor tenta mostrar o mundo através dos olhos da Imaculada de maneira bastante ousada. Entretanto, o Evangelho Secreto da Virgem Maria já traz consigo a concepção da intercessão dos justos, mortos para este mundo, mas vivos para Cristo pelos vivos, confirmando assim que há o céu logo após a morte, há também a ideia de que Maria era de fato a graça em plenitude, e que Maria é pra sempre virgem, além da fervorosa narração relacionada a São José, lhe acompanhando nessa virgindade perpétua, temática defendida por vários teólogos modernos, a concepção imaculada de São José.
O escrito peca, entretanto, ao tentar de
maneira ousada mostrar como era o olhar da Virgem Santíssima, bem como ao
mostrar um Cristo que muitas vezes não sabia de sua divindade, além de cometer
erros como não distinguir Maria Madalena de Maria irmã de Lázaro.
É claro que erros como esses já eram
esperados, pois se trata de um texto apócrifo, e não de um texto inspirado, mas
há um grande grau de elementos comuns entre esse texto e o Catolicismo. É comum
observar a verdade mesmo em meio às heresias, e essas verdades nos dão luz, de
como era o olhar para Maria entre os primeiros cristãos.
Essa introdução nos ajuda a ver que mesmo pessoas de crença duvidosa nos primeiros séculos do cristianismo já tinham um carinho especial pela Mãe de Deus, título que já aparece também nesse “evangelho” assim como aparece no Evangelho Segundo São Lucas (cf. Lc 1, 43).
Essa introdução nos ajuda a ver que mesmo pessoas de crença duvidosa nos primeiros séculos do cristianismo já tinham um carinho especial pela Mãe de Deus, título que já aparece também nesse “evangelho” assim como aparece no Evangelho Segundo São Lucas (cf. Lc 1, 43).
Maria, graça plena, medianeira
junto a Cristo
Maria é chamada pelo anjo Gabriel de “cheia
da graça” (cf. Lc 1, 28). Esse termo designa Nossa Senhora como a graça em
plenitude. É um vocativo grego de difícil tradução, um termo atemporal que
exprime aquela que era, que é e que sempre será agraciada. Seria equivalente a
dizer tecida na graça, coroada pela graça. Desse pequeno trecho tiramos em
partes o dogma da Imaculada Conceição.
Nossa Senhora certamente, se era, é e
sempre será graça em plenitude, nasceu coroada pela graça, sem a mancha do
pecado original. Mas Nossa Senhora teve de ser salva por seu filho pelo
sacrifício na cruz, que é atemporal. O Sacrifício não existiu apenas para os
que viviam naquela época, mas sim para os que viveram antes, depois e durante a
primeira vinda de Jesus. A Salvação é para todos, mais percebida por poucos a
morte de Cristo foi um sacrifício infinito, pois foi o sacrifício do filho de Deus
que é Deus com o Pai e com o Espírito este sacrifício foi eterno, pois o Deus
trino que professamos é eterno.
Maria foi concebida sem o pecado original,
isso é ensinado de forma implícita por São Lucas nesse pequeno trecho do
Evangelho, São Lucas que é um mariólogo destacado e rico em detalhes quando em
seu Evangelho registrou os eventos relacionados à Virgem. Maria é superior aos
anjos, é a criatura mais perfeita que pode existir, pois nunca se observa um
anjo maravilhado com um ser humano em toda a Sagrada Escritura a ponto de
saudá-la com termo tão majestoso “Cheia de graça”. Entretanto o anjo ao ver
Maria a saúda “graça em plenitude” [termo que corresponde de forma mais
perfeita as palavras originais do evangelho] e ela, por sua humildade se perturba
com semelhante saudação.
Os anjos como mensageiros de Deus levaram
essa saudação à Maria, saudação essa que partiu do Altíssimo. Nunca em toda a
Sagrada Escritura aconteceu episódio similar, apesar de vários anjos
mensageiros terem sido enviados por Deus a homens sábios no Antigo Testamento,
em nenhuma destas narrações um anjo reconhece a graça em um ser humano. Nossa
Senhora não podia ter o pecado original, pois sendo esse pecado passado de pai
para filho, se Nossa Senhora o tivesse, ela o teria passado a Jesus, e é pelos
méritos de Cristo que ela foi preservada por Deus, pois ali naquele
Tabernáculo, o santo ventre de Maria, gerou-se a Salvação na pessoa de Jesus.
Deus quis que a Rainha nascesse sem o pecado para que Jesus não o tivesse.
Maria, Mãe de Deus
Eis outro grande enigma. Jesus enquanto
plenamente Deus não era descendente de ninguém, pois procede do Pai e com o Pai
e o Espírito Santo, forma apenas um. Entretanto, negar a maternidade divina de
Maria é negar a redenção. Se as naturezas humana e divina de Jesus fossem
separadas, então o sacrifício na cruz não teria servido para nada. Nosso Senhor
teria morrido em vão.
Os sacrifícios do Antigo Testamento não
limpavam a mancha do pecado, que é uma ofensa infinita a Deus. Eles apenas
limpavam parcialmente. Ora, se o pecado é uma ofensa infinita a Deus, então há
necessariamente que ter um sacrifício infinito capaz de limpar os pecados da
humanidade.
Se a natureza humana de Jesus é distinta da
natureza divina, como alegaram diversas correntes heréticas no decorrer da
História, quem morreu na cruz foi um homem, pois a divindade não morre. Se quem
morreu na cruz é um homem, então o pecado não foi remido, pois se assim fosse,
qualquer homem que fosse oferecido em sacrifício teria sido suficiente para
redimir os pecados da humanidade. Tomando este raciocínio os concílios da
Igreja, condenaram tais teses.
Muito diferente, entretanto, foi o Santo
Sacrifício de Cristo. Ele, morrendo na cruz, de uma vez por todas venceu o
pecado através de sua morte e ressurreição. Então, quando Maria gerou Jesus,
ela gerou de fato um ser plenamente homem e plenamente Deus, cujas naturezas
são inseparáveis és a doutrina sempre professada pela Igreja.
Dessa maneira, o Sacrifício de Cristo foi
um sacrifício infinito, pois foi um sacrifício de um Deus que se fez homem em
tudo, exceto no pecado. Sendo infinito, esse sacrifício lavou nossas culpas e
nos fez filhos de Deus.
Portanto, se Nossa Senhora não é Mãe de
Deus, as naturezas humana e divina de Nosso Senhor têm que ser distintas e certamente
o sacrifício teria sido inútil, tomando este raciocínio o Arianismo, negou a
maternidade divina de Maria e o uso do título, Mãe de Deus. No entanto o
Concílio de Éfeso em 431 d.C. confirmou dogmaticamente a Maternidade divina de
Maria. Assim as naturezas humana e divina de Jesus estão unidas, foram geradas
no corpo de Cristo no ventre de Maria Santíssima, tornando possível a redenção.
As mães de todos nós não são capazes de
gerar almas, pois a alma quem gera é Deus. Entretanto, essa incapacidade não
tira delas o título de mães nossas. De forma semelhante, Maria por não ser Mãe
de Cristo enquanto Deus anterior a Maria; não tira dela o título de Mãe de
Deus, pois Jesus Cristo é ao mesmo tempo tão humano que teve de ser gerado por
uma mulher e tão Deus que nos remiu de nossos pecados. A encarnação é,
portanto, um mistério insondável aos olhos humanos.
Maria, medianeira de todas as
graças
Na Bíblia em momento algum fala-se que é
inútil a oração da Igreja para a conversão dos fiéis. Através do batismo somos
todos unidos ao Corpo Místico de Cristo (I Cor 12,12), remidos do pecado
original. Assim, somos um só corpo no amor de Deus.
Se somos uns só corpo, não há diferença
entre mortos e vivos no que se refere à capacidade de orarmos uns pelos outros,
pois nosso tesouro escondido está no alto. Ora, se assim é, então todos os
membros se beneficiam com a oração dos membros da Igreja e por isso, Nossa
Senhora como Mãe da Igreja também ora por seus filhos.
Maria é medianeira de todas as graças, pois
conforme já mostrado e também afirmado por diversos santos, doutores e papas; é
Mãe de Cristo e como somos parte do corpo d’Ele, Maria é nossa mãe. Se a graça
provém do Verbo, logo a graça passa por Maria, mãe do Verbo. Dessa maneira a
Igreja crê que as graças obtidas pelos fieis, chegam também pelas mãos
imaculadas da Virgem Santíssima, pois que a ela pode-se recorrer, ante a
mediação única que exerce o Senhor Jesus junto ao Pai (I Tm 2,5).
O fato da Palavra de Deus, citar Jesus como
único mediador entre Deus e os homens não acaba com a co-mediação de outros,
inclusive Maria. Como somos parte do Corpo de Cristo que é a Igreja, assim
somos todos comediadores e por isso a intercessão tem valor. Muito mais valor e
muito mais força tem a oração dos que já estão em comunhão plena com Deus na
visão beatifica. Maria sempre esteve em comunhão, pois jamais conheceu o pecado
e por isso, a intercessão de Maria é a intercessão que excede a petição de
todos os demais bem aventurados.
Via CN
Via CN
COMPARTILHE COM SEUS AMIGOS NO FACEBOOK
CLICANDO NO BOTÃO COMPARTILHAR ABAIXO: