Os poucos instantes que ele passou no Purgatório pareceram-lhe uma eternidade. E decidiu recorrer a Nossa Senhora.
O frei Daniele Natale foi um sacerdote capuchinho italiano que se dedicou a missionar em terras hostis durante a 2ª Guerra Mundial. Ele socorria os feridos, enterrava os mortos e salvava os objetos litúrgicos. Em meio a este cenário, em 1952, na clínica “Regina Elena”, ele recebeu o diagnóstico de câncer.
Com esta triste notícia, ele foi ver o Padre Pio, seu amigo e guia espiritual, quem lhe insistiu para que tratasse sua doença. O frei Daniele viajou a Roma e encontrou o médico que lhe haviam recomendado, Dr. Riccardo Moretti. Este médico, no começo, não queria realizar a cirurgia, porque tinha certeza de que o paciente não sobreviveria. Mas, influenciado por um impulso interior, acabou aceitando o desafio.
A intervenção foi realizada no dia seguinte pela manhã. Apesar da anestesia local, o frei Daniele continuou consciente. Ele sentia dor, mas não manifestava: pelo contrário, estava contente por poder oferecer seu sofrimento a Jesus. Mas, ao mesmo tempo, ele tinha a sensação de que esta dor estava purificando sua alma dos pecados.
Depois de algum tempo, ele sentiu que dormia. Para os médicos, ele havia entrado em coma, na qual permaneceu durante três dias, falecendo logo depois. Redigiram o atestado de óbito confirmado pelos médicos, e seus familiares se aproximaram do seu leito para rezar pelo defunto. No entanto, após algumas horas, o “morto” voltou à vida.
Três horas de purgatório
O que será que aconteceu com o frei Daniele durante aquelas horas? Onde esteve sua alma? O frade relatou sua experiência no livro “Fra Daniele reconta”. Deste escrito, compartilhamos os seguintes trechos:
“Eu estava em pé diante do trono de Deus. Pude vê-lo, mas não como um juiz severo, e sim como um Pai carinhoso e cheio de amor. Então, percebi que o Senhor havia feito tudo por amor a mim, que havia cuidado de mim do primeiro ao último instante da minha vida, amando-me como se eu fosse a única criatura existente sobre esta terra. Percebi também, no entanto, que eu não só não havia correspondido a este imenso amor divino, senão que havia descuidado dele. Fui condenado a duas-três horas de purgatório.
‘Mas como? – perguntei-me. Somente duas-três horas? Depois vou permanecer para sempre junto a Deus, eterno amor?’. Deu um pulo de alegria e me senti como um filho predileto. (…) Eram dores terríveis, que não sei de onde vinham, mas se sentiam intensamente. Os sentidos que mais haviam ofendido Deus neste mundo: os olhos, a língua, sentiam maior dor e era algo incrível, porque no purgatório a pessoa sente como se tivesse o corpo e conhece, reconhece os outros como ocorre no mundo.
Enquanto isso, não haviam passado mais que uns poucos minutos dessas penas e já me pareciam uma eternidade. Então pensei em pedir a um irmão do meu convento que rezasse por mim, porque eu estava no purgatório. Esse irmão ficou impressionado, porque sentia a minha voz, mas não me via. Ele perguntava: ‘Onde você está? Por que não consigo vê-lo?’ (…) Só então percebi estar sem corpo. Me contentei com insistir-lhe que rezasse muito por mim e fui embora.
‘Mas como? – dizia eu a mim mesmo. Não seriam só duas ou três horas de purgatório? Mas já se passaram 300 anos!’ – pelo menos esta era a minha impressão. De repente, a Bem-Aventurada Virgem Maria apareceu para mim e lhe supliquei, implorei, dizendo-lhe: ‘Ó Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, obtém para mim do Senhor a graça de retornar à terra para viver e agir somente por amor a Deus!’.
Percebi também a presença do Padre Pio e lhe supliquei: ‘Pelas suas dores atrozes, pelas suas benditas chagas, Padre Pio meu, reze por mim a Deus, para que me liberte destas chamas e me conceda continuar o purgatório sobre a terra’. Depois não vi mais nada, mas percebi que o Padre Pio conversava com Nossa Senhora (…).
Ela inclinou a cabeça e sorriu para mim.
Naquele exato momento, recuperei a possessão do meu corpo. (…) Com um movimento brusco, me livrei do lençol que me cobria. (…) Os que estavam velando e rezando, assustadíssimos, correram para fora do quarto, para buscar os enfermeiros e médicos. Em poucos minutos, o hospital virou uma bagunça. Todos pensavam que eu era um fantasma.”
No dia seguinte pela manhã, o frei Daniele se levantou sozinho da cama e se sentou em uma poltrona. Eram sete horas. Os médicos geralmente visitavam os pacientes às nove. Mas, neste dia, o Dr. Riccardo Moretti, o mesmo que havia redigido o atestado médico de óbito do frei Daniele, havia chegada mais cedo ao hospital. Ele parou na frente do frade e, com lágrimas nos olhos, disse-lhe: “Sim, agora eu acredito em Deus e na Igreja, acredito no Padre Pio!”.
O frei Daniele teve a oportunidade de compartilhar sua dor com Cristo durante mais de 40 anos após estes acontecimentos. Ele faleceu em 6 de julho de 1994, aos 75 anos, na enfermaria do convento dos Irmãos Capuchinhos de San Giovanni Rotondo (Itália).
Via Aleteia
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