Os tumultos ocorridos nessa quinta-feira, na sede da Federação Paraibana de Futebol (FPF), não envolveram apenas a tentativa do vice-presidente Nosman Barreiro de assumir o comando da entidade no lugar do presidente Amadeu Rodrigues, que estava na França a serviço da CBF. Nem somente as trocas de farpas e as discussões ásperas entre aliados dos dois dirigentes. Nem só a intervenção da Polícia Militar, que levou os envolvidos para o Ministério Público da Paraíba. Toda a balbúrdia política parece não ter bastado aos envolvidos. Um episódio de intolerância religiosa e de racismo foi mais um grave incidente neste cenário caótico que empobrece o futebol paraibano. A ponto de um dos principais símbolos do catolicismo brasileiro ter sido chamado de "neguinha macumbeira".
Nosman Barreiro, seus advogados e aliados já haviam entrado na sede da FPF e chamado um chaveiro para abrir as portas da sala presidencial, já que os advogados e aliados de Amadeu Rodrigues se recusaram a lhes entregar as chaves que dariam acesso a todos os espaços do prédio. E Nosman, já se intitulando presidente, estava sentado à principal mesa da Federação, se preparando para fazer o seu primeiro pronunciamento como pretenso dirigente máximo da entidade. Foi quando um ato aparentemente criminoso roubou a cena por alguns instantes.
O episódio foi praticado por uma aliada de Nosman Barreiro. Há desencontro de informações sobre ela ser secretária ou irmã do vice-presidente - ou as duas coisas. Fato é que o tempo todo, durante o tumulto, ela esteve apoiando o ato do dirigente e, por vezes, o orientando sobre o que ele devia dizer à imprensa.
Confusão nessa quinta-feira foi generalizada (Foto: Cisco Nobre / GloboEsporte.com) |
Nosman estava sentado à mesa de presidente da FPF, onde já havia identificado a imagem de Nossa Senhora Aparecida, considerada pelos católicos como a padroeira do Brasil, santa da qual o presidente Amadeu Rodrigues é devoto. Antes que Nosman iniciasse o seu pronunciamento, a sua aliada fez questão de retirar a imagem, que estava presa à mesa com fita adesiva. Nosman, aparentemente, até tentou impedi-la. Mas não conseguiu. E enquanto ela se desvencilhava do símbolo religioso, deixava claro, falando em voz alta, que não queria que a santa aparecesse ao lado de Nosman em seus primeiros instantes como suposto presidente.
- Vamos tirar ela daqui. Porque... ela aqui não. Não, deixa ela aqui atrás. A gente só adora uma coisa: Deus. Deixa ela aqui - alardeava a mulher, em tom agressivo, enquanto levava a santa para um dos sofás do recinto.
Logo após alojar a imagem no canto de um dos sofás, aos olhos de dirigentes, advogados e profissionais da imprensa, a aliada de Nosman ainda se propôs a um último ajuste na "acomodação" da santa. A mulher tratou de colocar o símbolo religioso de costas para os presentes.
Invasão à FPF tem flagrante de racismo e de intolerância religiosa |
Ainda em meio a alguns comentários rápidos sobre o embate político que era travado naquela sala, a mulher vociferou as últimas palavras da sua manifestação de intolerância religiosa e racismo:
- Tá repreendido. Botaram a neguinha macumbeira pra cá - finalizou.
Feito isso, Nosman fez o seu pronunciamento na condição de presidente, cargo que ele se autodeclara assumir desde então. Falou das providências que pretende tomar à frente da FPF, o tempo todo ladeado pela mulher, sua aliada e declarada opositora de Nossa Senhora Aparecida.
Santa foi colocada num sofá, de costas para a mesa da presidência (Foto: Cisco Nobre / GloboEsporte.com) |
Uma vez terminada a fala de Nosman e já passada, inclusive, a declaração do diretor jurídico da FPF, Marcos Souto Maior Filho - que, por procuração, é o atual presidente da entidade - a mulher voltou à tona. Resgatou a imagem da santa no canto do sofá. Recolocou-a na mesa presidencial. Deixou a principal sala da Federação. E, no fim das contas, o símbolo religioso seguiu em sua espécie de "altar improvisado".
Via GE
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